segunda-feira, 11 de junho de 2012

Queda dos juros desacelera expansão do mercado de consórcios


Custo de aquisição ainda é menor do que nos financiamentos, mas distância vem diminuindo
RIO — Com a redução dos juros da promovida pelo governo e o avanço de programas como o Minha Casa Minha Vida, o setor de consórcios já admite desaceleração no crescimento. De acordo com as instituições financeiras, o setor, que cresceu cerca de 20% no ano passado, deve registrar alta de 13% em 2012. É uma queda de 35%.

— Essa redução acontece por causa das ações do governo. Mas ainda sim é um crescimento vigoroso. O Banco do Brasil vai crescer bem acima da média do mercado, pois estamos ampliando a oferta de canais para vender o produto. O mercado está pujante e mais competitivo — disse Alexandre Luís dos Santos, gerente-executivo de Consórcios do Banco do Brasil.

Segundo ele, após avanço de 60% na procura por consórcios em 2011, o produto deve crescer 50% neste ano, uma redução de 16,6%.

Apesar da queda da Selic, para 8,5% ao ano, os consórcios ainda seguem com opção financeira para quem quer comprar um carro ou imóvel e não tem pressa para receber o bem. Segundo cálculos da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) e os bancos, o consórcio de um carro tem custo médio de 0,7% ao mês. Enquanto isso, um CDC (Crédito Direto ao consumidor) para automóveis tem juros médios de 1,9% ao mês. No caso dos imóveis, também há diferenças. No consórcio, o custo oscila entre 1,3% e 1,5% ao ano, e o financiamento tradicional oscila hoje entre 11% e 12% anuais. Apesar de ainda significativas, as diferenças entre os custos do consórcio e do financiamento vem diminuindo.

Já diferença entre as duas modalidades de compra de bens continua a mesma. No consórcio, o cliente paga sem ter o produto em mãos. Ele adere e começa a pagar mensalmente. Todo mês há sorteios. Caso não seja sorteado, pode dar um lance, que também é mensal. Por isso, dizem especialistas em finanças pessoais, o consórcio só é indicado para quem não precisa do bem imediatamente, pois tem de esperar até ser sorteado.

Além disso, os especialistas lembram que os valores das prestações dos consórcios também podem variar conforme a valorização do bem. Se o preço da moto, do carro ou do imóvel subir, as parcelas mensais também sobem. O mesmo acontece em caso de desvalorização do ativo.

Segundo Mauricio Maciel, diretor-presidente da Caixa Consórcio, a modalidade é usada ainda, em boa parte dos casos, por pessoas que não têm como aderir a um financiamento tradicional, por não ter todas as garantias exigidas pelos bancos:

— O consórcio busca espaços complementares. Tem o público que pode trocar o consórcio pelo financiamento tradicional, e há as pessoas que não têm pressa e, por isso, ficam no consórcio — explicou Maciel, lembrando que a Caixa tem 150 mil clientes em consórcios. — Mas o custo de um consórcio é diferente de um financiamento tradicional. Por exemplo, no caso do consórcio imobiliário, a taxa de administração por todo o período é de 18%. Mas no primeiro ano, o cliente paga 4%. Os 14% restantes são diluídos nos 138 meses restantes.

Miguel José Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Anefac, diz que o consórcio é melhor alternativa financeira, pois, apesar da queda da Selic, os juros cobrados ao consumidor ainda estão muito altos:
— As linhas tradicionais dos bancos só ficarão mais atrativas se o CDC de veículos tiver juro menor de 0,7% ao mês, mas hoje está em 1,9%. O mesmo teria de acontecer com o financiamento imobiliário. Mas o consórcio não serve para quem tem urgência em ter o bem, pois é preciso esperar os sorteios — disse Oliveira.

Miguel acredita que, com os juros caindo ainda mais, é possível esperar uma redução dos custos do consórcio a médio e longo prazos. Gilberto Braga, professor de Finanças do Ibmec-RJ, disse que o ideal é pesquisar as diferentes condições oferecidas pelos bancos.

— O consórcio é atrativo para quem consegue a carta de crédito no começo do consórcio. Com isso, vai arcar com um custo menor em relação a um financiamento tradicional. O valor da prestação do consórcio cai e sobe de acordo com a valorização do bem. Mas o consórcio tem hoje um público específico, como pessoas que trocam de carro periodicamente ou planejam uma casa nova para alguns anos — afirmou Braga.

O consórcio não tem juros. O custo da modalidade é composto por taxa de administração, fundo de reserva e seguro (para caso de calote de participantes dentro do grupo). Hoje, as taxas de administração variam entre os bancos. No caso de automóveis, oscilam, em sua maioria, entre 12% e 15%; e em imóveis, entre 17% e 18%. Paulo Rossi, presidente da Associação Brasileira de Administradores de Consórcios (Abac), diz que, com a economia crescendo e o desemprego em baixa, as pessoas conseguem planejar a compra de bens.

— Com as pessoas se sentindo seguras em seus empregos, o consumidor passa a planejar as compras a médio e longo prazos. Entre abril deste ano e abril de 2011, houve alta de 13% no número de participantes, chegando a 4,860 milhões. Nos quatro primeiros meses deste ano, houve avanço de 4,6% no número de novos consumidores — destacou Rossi.
Hoje, um consórcio de carro tem prazo entre 50 meses e 60 meses; e no caso de imóveis, pode chegar a 200 meses. Segundo a Abac, os veiculos respondem hoje por 85% do setor. Rossi observa que a redução do IPI para automóveis vai refletir em queda dos valores das prestações dos consórcios.

— O valor é sempre reajustado, de acordo com a valorização do bem. Sempre quando um cotista é sorteado, ele ganha uma carta de crédito. No caso dos carros, ele pode comprar qualquer modelo. E com isso ganha poder de barganha. Se o valor do automóvel for menor, ele consegue abater das prestações. Se for maior, paga a diferença — afirmou Rossi.

Taxas de administração dos bancos

O Itaú Unibanco oferece uma taxa de administração de 17% para o consórcio de imóveis com praxo máximo de 180 meses; e de 80 meses no caso de carros (com taxa de administração de 13%). O Bradesco oferece taxa de administração de 18% para imóveis e prazo de até 120 meses. No caso de automóveis leves, a taxa de administração é de 12% e o prazo, de 44 meses. A Caixa tem taxa de administração de 18% para imóveis e prazo de até 150 meses. O Banco do Brasil tem taxas de administração entre 10% e 11% para produtos e serviços com prazos de até 75 meses. Para imóveis, a taxa varia entre 14% e 17%, e prazo de 200 meses.

— A procura continua firme.Temos hoje 666 mil clientes ativos. Nos últimos meses, a taxa de administração dos imóveis já vem caindo, passando de 19% para 18% nos últimos anos — diz Fernando Tenório, diretor do Bradesco Consórcio

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