sábado, 30 de junho de 2012

GLP Colocando a casa em ordem



Acompanhando o menor ritmo de crescimento da economia, as vendas de GLP perderam um pouco de fôlego no ano passado, mas ainda assim registraram um incremento de 2,5%, totalizando 7.103 mil toneladas de produto comercializado por 23 distribuidoras e 46.330 revendedores (somente os autorizados pela Portaria ANP 297/03). Apesar de inferior à expansão registrada no anterior, ela superou as estimativas do setor, que chegou a projetar um 2011 de vendas praticamente estáveis.
O faturamento alcançou R$ 23,6 bilhões, 2,6% acima do registrado em 2010. A arrecadação tributária, por sua vez, aumentou 2,7%. No somatório dos tributos PIS/Cofins e ICMS, o montante em 2011 alcançou R$ 4,1 bilhões, ante os R$ 4 bilhões acumulados no mesmo período do ano anterior.
O incremento no nível de emprego e de renda está por trás do bom desempenho do setor, além do aquecimento nos segmentos comercial e industrial. Também contribuiu o endurecimento das ações do Programa Gás Legal, que combate o comércio clandestino de GLP e vem fechando revendas irregulares. Cerca de 10 mil novos cadastramentos foram realizados desde o início do Programa. Em contrapartida, houve o fechamento de 4 mil empresas que atuavam ilegalmente.
Na categoria P-13 (recipientes com 13 kg), o popular botijão de cozinha, o crescimento foi de 2,1% em relação a 2010, totalizando 5.131 mil toneladas, com destaque para o aumento de 70% no consumo das regiões Norte e Nordeste. Na versão granel (indústrias, comércio e condomínios), o número foi maior e chegou a 3,45%. Mesmo assim, o P-13 continua liderando com folga o ranking de consumo no país, respondendo por 72% da demanda por GLP. 

Pode melhorar
Apesar dos números positivos, o setor terminou o ano com a sensação de que poderia ter sido melhor. Isso porque o Brasil ainda não conseguiu a autossuficiência em GLP, o que só deve ocorrer na segunda metade dessa década. No ano passado, o país importou cerca de 26% do total utilizado, já que a produção praticamente estável não foi suficiente para atender ao aumento do consumo. E diante da grande importância que o insumo tem para as famílias brasileiras, em especial as de baixa renda, há grande receio do governo em autorizar o derivado para outros usos, ou mesmo estimulá-lo em outras partes da residência além da cozinha, como nos sistemas de aquecimento, substituindo a energia elétrica.
No entanto, mesmo no uso para cocção ainda há muito espaço a ser conquistado. Afinal, embora esteja presente em mais de 95% dos lares brasileiros, o GLP representa apenas 26,6% da matriz energética residencial do país, perdendo para a energia elétrica e para a lenha. Na matriz energética nacional, a participação do GLP é de 3,6% e, segundo previsões, este número poderia chegar a 4,2%, até 2020.
O fim do recadastramento
Em 2011, a Agência concluiu um processo que durou quase uma década: o recadastramento de revendedores de GLP. Previsto para ser encerrado em dezembro de 2010, a ANP prorrogou o prazo nos estados de Tocantins e Mato Grosso, e ainda no município de Florianópolis (SC). Assim, o levantamento só foi totalmente concluído em março de 2011. O perfil do revendedor de GLP passou a ser mais pontual, sem a larga interferência que vinha sofrendo até então, com a clandestinidade e venda sem controle em pontos não permitidos por lei. Para se ter uma ideia, antes do recadastramento, a estimativa é de que existiam cerca de 70 mil pontos de venda no país, ante os cerca de 46 mil contabilizados atualmente.
Legislação
Duas importantes legislações afetaram o dia a dia das revendas de GLP no país. A mais importante delas foi a Resolução ANP nº 70, publicada em 22/12/2011, cujo objetivo é "disciplinar o estacionamento de veículos transportadores com recipientes transportáveis de GLP cheios, parcialmente utilizados e vazios, no interior de imóvel que possua área de armazenamento de recipientes transportáveis de GLP, a fim de garantir as condições de segurança". A legislação contou com o apoio da Fergás e do Corpo de Bombeiros de vários estados, que apontavam ser comum a utilização de caminhões estacionados carregados para aumentar, na prática, a área de armazenagem da revenda, desrespeitando assim as condições de enquadramento das classes e as distâncias de segurança.
Outra importante mudança foi a entrada em vigor da Resolução nº 356 do Contran, que trouxe novas regras de segurança para o transporte remunerado de cargas em motocicleta e motoneta. A legislação focava o serviço de mototáxi, mas atingiu em cheio a revenda de GLP no país, que utiliza bastante o motofrete para entrega de recipientes P-13.

Margens menores
Os preços médios praticados pela revenda de GLP em 2011 aumentaram gradativamente ao longo do ano chegando quase aos R$ 39,00 por recipiente de 13 kg, refetindo especialmente o aumento de custos. Em média, o P-13 subiu 0,40%, percentual inferior, portanto, ao reajuste de 1,54% aplicado pelas distribuidoras. Na produção, não houve alteração nos preços.
Embora os itens que impactam o preço do produto tenham registrado aumento menos acentuado no ano passado, eles ainda pesaram bastante no custo final. O salário mínimo, por exemplo, subiu 6,9% e a cesta básica, 3,4%. E boa parte desses custos nem sequer foram repassados ao consumidor final.
O resultado foi o achatamento da margem do revendedor que caiu para R$ 9,49 em dezembro, o que corresponde a um declínio de quase 5% em relação a janeiro de 2011. O valor também é inferior aos R$ 9,78 apurados em janeiro de 2010.
Em sentido inverso, a margem da distribuição, após registrar um discreto recuo ao longo de 2010, cresceu constantemente no ano passado, chegando a R$ 11,11 em dezembro de 2011. Valor que supera a margem da revenda e está acima também dos R$ 10,43 apurados em janeiro de 2010. Só ano passado, a margem da distribuição cresceu cerca de 9%.
Entre os cinco primeiros players, o Grupo Ultra manteve a liderança, com participação praticamente estável em torno dos 23%, após amargar uma discreta redução em 2010. Em seguida, aparece a Liquigás, que obteve um incremento de 0,5 ponto percentual, atingindo 22,8%. O Grupo SHV manteve a terceira posição com 21% de market share, perdendo assim quase um ponto percentual de participação em relação ao ano anterior. Completando o ranking, aparecem o Grupo Nacional, com fatia de 18,9%, e a Copagaz, com 7,7%. 


Fiscalização
Responsável por quase 70% do mercado nacional de GLP, não é de estranhar que os vasilhames de 13 quilos lideraram as estatísticas de fiscalização em 2011. Das 48.723 unidades apreendidas no ano passado,quase 96% foram de P-13 (cheios ou vazios).
Para a revenda de GLP, as principais infrações constatadas pela fiscalização da ANP foram a falta de disposições acessórias de segurança (31,1%) e a ausência de autorização para o exercício da atividade, com 20,9%.
Na distribuição, as principais infrações registradas foram o não cumprimento de notificação, com 44,2%, e a falta de disposições acessórias de segurança, com 11,5%.







quarta-feira, 20 de junho de 2012

Os bons têm vaga

A área de finanças aceita profissionais com graduações diversas, mas a formação técnica precisa ser impecável. A oferta de emprego é alta e os salários são atraentes
Em 2011, os salários pagos aos profissionais em cargos como gerente financeiro, controller, auditor e analista contábil aumentaram em média 20%, segundo pesquisa da robert half, empresa de recrutamento de São Paulo. "esta é a melhor hora para trabalhar em finanças no brasil", diz daniel Levy, diretor financeiro da Johnson & Johnson para américa Latina. o mercado, no entanto, tem sofrido com a falta de mão de obra qualificada.
Para ricardo araújo, diretor da HSM educação, os jovens profissionais de finanças estão chegando ao mercado de trabalho com problemas de formação. "o brasil tem um déficit de conhecimento de matemática muito forte, o que faz com que muita gente ingresse na graduação sem uma base mínima, e isso precisa ser trabalhado", diz ricardo. essa carência de bons profissionais é uma oportunidade para quem tem facilidade com números e está disposto a investir na educação para atuar na área. Uma vantagem do setor de finanças é a variedade de caminhos possíveis que um profissional pode traçar em sua carreira.

O mercado de capitais é uma das áreas que têm sido muito procuradas por jovens profissionais, atraídos pela perspectiva de boa remuneração variável. "Um bom profissional no setor consegue ganhar de 100 000 a 1 milhão de reais por ano", diz o administrador henrique aguiar, de 31 anos, que começou como operador na bovespa em 2004 e três anos depois, graças a um Mba em derivativos pela bM&F-Universidade de São Paulo, conseguiu emprego como operador de mesa de derivativos do banco espírito Santo de São Paulo.

Mas há outras oportunidades além do mercado de capitais. o brasiliense Marcelo hamú, de 24 anos, quer se especializar em sustentabilidade na área de finanças. o jovem administrador de empresas acaba de termina ra pós-graduação de 360 horas em gestão com ênfase em finanças pela Fundação Dom Cabral, de Minas Gerais, e já busca uma vaga para o mestrado stricto sensu na Universidade Columbia, em Nova York, com início no segundo semestre de 2012. "Sustentabilidade não é só plantar árvores, mas colocar o microcrédito na pauta de um grande banco, por exemplo", diz Marcelo.

O curso, que vai levar um ano e meio, custará 150 000 reais entre mensalidades e estadia. Como em qualquer carreira, não existe uma receita exata de formação acadêmica que leve os financeiros ao sucesso. "São várias as opções, mas há duas regras básicas", diz Virginia Izabel, coordenadora técnica do programa de especialização em finanças da Fundação Dom Cabral.

"A primeira é que, em finanças, não existe espaço para achismos. A formação técnica precisa ser impecável", afirma. A segunda é que, independentemente do curso escolhido
da graduação ao MBA , é preciso colocar a mão no bolso e pagar para fazer um curso bom. "Só assim o profissional terá diferencial", afirma Virginia. Vale lembrar que não há uma exigência por graduação específica para atuar em finanças. É muito comum encontrar engenheiros, administradores, estatísticos e economistas nas cadeiras de diretor financeiro.

Por isso, o profissional que quer crescer na área precisa ser sincero consigo mesmo e buscar entender os pontos fortes e fracos de sua graduação para programar seus próximos passos no estudo. Se a graduação foi forte na parte matemática, um bom passo é apostar em pós-graduação em gestão. Já, se a escolha foi administração, a lacuna pode estar em matemática financeira ou controladoria. Se, ainda, foi economia, pode faltar conhecimento em contabilidade e gestão.

E isso são apenas alguns exemplos, porque as lacunas variam de caso a caso. "No geral, os cursos de curta duração e as especializações são fundamentais para resolver falhas pontuais de formação", acrescenta Angela Menezes, professora de MBA de finanças do Insper, em São Paulo.
Depois de cuidar disso, o profissional precisa tomar uma decisão prática: qual é o caminho dentro de finanças que ele deseja trilhar? Se ele já tem uma experiência gerencial e deseja atuar na área corporativa, o melhor passo é um MBA de 480 horas. Se quiser seguir no mercado de capitais, a melhor escolha passa pelas certificações e pelos cursos específicos do setor (veja quadro nesta página).

Quando há planos de dar aula em faculdades no futuro, é preciso buscar o mestrado stricto sensu ou mestrado profissional. "Ninguém está 100% preparado, é preciso se atualizar sempre", diz André Rodrigues, diretor financeiro da Rhodia para a América Latina e presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo (Ibef-SP).

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Queda dos juros desacelera expansão do mercado de consórcios


Custo de aquisição ainda é menor do que nos financiamentos, mas distância vem diminuindo
RIO — Com a redução dos juros da promovida pelo governo e o avanço de programas como o Minha Casa Minha Vida, o setor de consórcios já admite desaceleração no crescimento. De acordo com as instituições financeiras, o setor, que cresceu cerca de 20% no ano passado, deve registrar alta de 13% em 2012. É uma queda de 35%.

— Essa redução acontece por causa das ações do governo. Mas ainda sim é um crescimento vigoroso. O Banco do Brasil vai crescer bem acima da média do mercado, pois estamos ampliando a oferta de canais para vender o produto. O mercado está pujante e mais competitivo — disse Alexandre Luís dos Santos, gerente-executivo de Consórcios do Banco do Brasil.

Segundo ele, após avanço de 60% na procura por consórcios em 2011, o produto deve crescer 50% neste ano, uma redução de 16,6%.

Apesar da queda da Selic, para 8,5% ao ano, os consórcios ainda seguem com opção financeira para quem quer comprar um carro ou imóvel e não tem pressa para receber o bem. Segundo cálculos da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) e os bancos, o consórcio de um carro tem custo médio de 0,7% ao mês. Enquanto isso, um CDC (Crédito Direto ao consumidor) para automóveis tem juros médios de 1,9% ao mês. No caso dos imóveis, também há diferenças. No consórcio, o custo oscila entre 1,3% e 1,5% ao ano, e o financiamento tradicional oscila hoje entre 11% e 12% anuais. Apesar de ainda significativas, as diferenças entre os custos do consórcio e do financiamento vem diminuindo.

Já diferença entre as duas modalidades de compra de bens continua a mesma. No consórcio, o cliente paga sem ter o produto em mãos. Ele adere e começa a pagar mensalmente. Todo mês há sorteios. Caso não seja sorteado, pode dar um lance, que também é mensal. Por isso, dizem especialistas em finanças pessoais, o consórcio só é indicado para quem não precisa do bem imediatamente, pois tem de esperar até ser sorteado.

Além disso, os especialistas lembram que os valores das prestações dos consórcios também podem variar conforme a valorização do bem. Se o preço da moto, do carro ou do imóvel subir, as parcelas mensais também sobem. O mesmo acontece em caso de desvalorização do ativo.

Segundo Mauricio Maciel, diretor-presidente da Caixa Consórcio, a modalidade é usada ainda, em boa parte dos casos, por pessoas que não têm como aderir a um financiamento tradicional, por não ter todas as garantias exigidas pelos bancos:

— O consórcio busca espaços complementares. Tem o público que pode trocar o consórcio pelo financiamento tradicional, e há as pessoas que não têm pressa e, por isso, ficam no consórcio — explicou Maciel, lembrando que a Caixa tem 150 mil clientes em consórcios. — Mas o custo de um consórcio é diferente de um financiamento tradicional. Por exemplo, no caso do consórcio imobiliário, a taxa de administração por todo o período é de 18%. Mas no primeiro ano, o cliente paga 4%. Os 14% restantes são diluídos nos 138 meses restantes.

Miguel José Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Anefac, diz que o consórcio é melhor alternativa financeira, pois, apesar da queda da Selic, os juros cobrados ao consumidor ainda estão muito altos:
— As linhas tradicionais dos bancos só ficarão mais atrativas se o CDC de veículos tiver juro menor de 0,7% ao mês, mas hoje está em 1,9%. O mesmo teria de acontecer com o financiamento imobiliário. Mas o consórcio não serve para quem tem urgência em ter o bem, pois é preciso esperar os sorteios — disse Oliveira.

Miguel acredita que, com os juros caindo ainda mais, é possível esperar uma redução dos custos do consórcio a médio e longo prazos. Gilberto Braga, professor de Finanças do Ibmec-RJ, disse que o ideal é pesquisar as diferentes condições oferecidas pelos bancos.

— O consórcio é atrativo para quem consegue a carta de crédito no começo do consórcio. Com isso, vai arcar com um custo menor em relação a um financiamento tradicional. O valor da prestação do consórcio cai e sobe de acordo com a valorização do bem. Mas o consórcio tem hoje um público específico, como pessoas que trocam de carro periodicamente ou planejam uma casa nova para alguns anos — afirmou Braga.

O consórcio não tem juros. O custo da modalidade é composto por taxa de administração, fundo de reserva e seguro (para caso de calote de participantes dentro do grupo). Hoje, as taxas de administração variam entre os bancos. No caso de automóveis, oscilam, em sua maioria, entre 12% e 15%; e em imóveis, entre 17% e 18%. Paulo Rossi, presidente da Associação Brasileira de Administradores de Consórcios (Abac), diz que, com a economia crescendo e o desemprego em baixa, as pessoas conseguem planejar a compra de bens.

— Com as pessoas se sentindo seguras em seus empregos, o consumidor passa a planejar as compras a médio e longo prazos. Entre abril deste ano e abril de 2011, houve alta de 13% no número de participantes, chegando a 4,860 milhões. Nos quatro primeiros meses deste ano, houve avanço de 4,6% no número de novos consumidores — destacou Rossi.
Hoje, um consórcio de carro tem prazo entre 50 meses e 60 meses; e no caso de imóveis, pode chegar a 200 meses. Segundo a Abac, os veiculos respondem hoje por 85% do setor. Rossi observa que a redução do IPI para automóveis vai refletir em queda dos valores das prestações dos consórcios.

— O valor é sempre reajustado, de acordo com a valorização do bem. Sempre quando um cotista é sorteado, ele ganha uma carta de crédito. No caso dos carros, ele pode comprar qualquer modelo. E com isso ganha poder de barganha. Se o valor do automóvel for menor, ele consegue abater das prestações. Se for maior, paga a diferença — afirmou Rossi.

Taxas de administração dos bancos

O Itaú Unibanco oferece uma taxa de administração de 17% para o consórcio de imóveis com praxo máximo de 180 meses; e de 80 meses no caso de carros (com taxa de administração de 13%). O Bradesco oferece taxa de administração de 18% para imóveis e prazo de até 120 meses. No caso de automóveis leves, a taxa de administração é de 12% e o prazo, de 44 meses. A Caixa tem taxa de administração de 18% para imóveis e prazo de até 150 meses. O Banco do Brasil tem taxas de administração entre 10% e 11% para produtos e serviços com prazos de até 75 meses. Para imóveis, a taxa varia entre 14% e 17%, e prazo de 200 meses.

— A procura continua firme.Temos hoje 666 mil clientes ativos. Nos últimos meses, a taxa de administração dos imóveis já vem caindo, passando de 19% para 18% nos últimos anos — diz Fernando Tenório, diretor do Bradesco Consórcio

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Os 17 segredos de Abilio Diniz

Abilio Diniz está dedicando mais tempo de sua agenda para compartilhar suas experiências como empreendedor e executivo. Conheça suas lições essenciais de liderança
Desde que deixou o dia a dia do Grupo Pão de Açúcar, o empresário Abilio Diniz, de 75 anos, decidiu dedicar parte de seu tempo para ensinar o que aprendeu com erros e acertos  em 52 anos de carreira. Como presidente do conselho de administração desde 2003, ele ainda dá expediente no escritório da Avenida Brigadeiro Luís Antônio, no centro de São Paulo, mas tem atendido mais convites de universidades para falar aos estudantes.

Há pouco mais de um ano, Abilio também voltou para a sala de aula, na Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP), onde se formou, para ensinar conceitos de liderança aos jovens líderes e aspirantes a gestor. o curso de 60 horas tem aulas teóricas de negociação, finanças e empreendedorismo. os alunos estudam casos reais e aprendem a lidar com imprevistos, a motivar a equipe, a superar crises e a identificar e antecipar tendências. nos últimos tempos, Abilio vem se tornando uma referência para os jovens profissionais.
Como age e o que faz um bom líder, por Abilio Diniz
Seja humilde
1 - "Você deve olhar para sua equipe e tentar entendê-la, participar da vida de seus colaboradores, saber se eles estão confortáveis em suas atribuições", diz Abilio Diniz. Dessa forma, é possível prever problemas e antecipar soluções. Além disso, você conseguirá manter o time unido e engajado para obter bons resultados para a empresa.

2 - Pergunte sempre o que move você, o que o motiva e o que quer

"Quando um profissional sabe o que realmente quer, é possível trabalhar com mais empenho e conseguir melhores resultados da equipe." Por isso, é importante se conhecer e saber seus pontos fortes e fracos. Você pode fazer análise ou ler e conversar muito.
3 - Não improvise

"Um bom líder não improvisa. Ele é cauteloso e está sempre prevenido contra eventualidades. Quando surge um problema, ele deve seguir três passos: fazer o diagnóstico com a maior quantidade de informações possível, depois planejar qual caminho seguir e só então é que ele deve agir."
4 -Não reinvente a roda

"Muita coisa que fiz foi copiando o que deu certo, procurando as referências no mercado. No mundo atual, há poucos negócios que dependem de inovação. Por isso, não tente criar coisas inusitadas o tempo todo, se concentre em fazer bem o que já existe e, com isso, garantir bons resultados para o negócio."
5 - Não tenha prioridades imutáveis

"Quando um líder tem prioridades na gestão de pessoas ou no negócio, ele acaba pensando só no futuro e esquece o presente. O líder tem de ter um foco e engajar a equipe para perseguir a meta. Ele deve olhar para a frente, abrir os braços e levar toda a equipe com ele para atingir seu objetivo."
6 - Lidere com sentimento, carinho e atenção

"Os cursos de liderança podem diminuir algumas defasagens, mas não são capazes de solucionar os problemas de gestão de quem não ouve a equipe, não reconhece a diferença entre os profissionais e não trabalha em um verdadeiro time. Seus subordinados vão saber se você está com eles ou não."

7 - Exija o melhor

"O papel do gestor é estimular a equipe e extrair o melhor resultado de cada funcionário. Eu sempre pergunto para meus funcionários: 'O que você está fazendo para ser o melhor do mundo em sua área?'. Eles precisam constantemente querer ser os melhores no que fazem. E não há motivos para não ser assim."
8 - Ajude as pessoas a ser felizes
"Só quem consegue equilibrar vida pessoal e profissional e desempenha bem seus papéis na sociedade é feliz. Profissionais felizes produzem mais e melhor. Para mim, quem diz que está trabalhando muito não ganha pontos. Ganha pontos quem consegue ter uma vida equilibrada."

9 - Estude sempre
"O papel do líder não é ser um especialista em todas as áreas da empresa. Ele precisa ter uma visão geral do negócio e saber quais são as principais tendências do setor em que trabalha. Mas ele não deve parar de estudar nunca. O bom líder precisa ler muito e ficar atento ao que acontece ao seu redor o tempo todo."
10 - Antecipe cenários
"Quem chefia uma organização precisa antecipar problemas. Nunca ser pego de surpresa por eventos inesperados. O líder eficiente é aquele que olha para o futuro e traça um plano B, C e D. Ele tem sempre que pensar em como resolver problemas ou em como evitar situações que possam causar prejuízos ao negócio."
11 - Contrate bem

"Antes de contratar um profissional, você deve esmiuçar muito bem quais serão as atividades dele e o que espera do colaborador. Gaste muito tempo com essa atividade, chame advogados, detalhe o contrato
você não vai se arrepender. Todos os problemas que tive nos negócios se deram porque fiz más contratações."
12 - Ouça

"O líder precisa saber ouvir, se comunicar de um jeito que os subordinados
compreendam. Pergunte, escute, participe. Não adianta apenas falar e não ser entendido. Muita gente acredita que, porque fala muito, fala bem. Não é assim. É preciso garantir que sua equipe entenda exatamente quais são as metas da empresa."

13 - Seja rápido

"No mundo de hoje, com o rápido desenvolvimento da tecnologia, os profissionais lentos estão ultrapassados. O líder tem de ser ágil, objetivo e incansável. Para tomar decisões rápidas e eficientes é preciso estar muito bem preparado, considerar todas as consequências para o negócio, e agir."

"Em todos os tipos de negócio, os problemas só existem em duas áreas. Ou estão nos processos desempenhados pela companhia ou nas pessoas que executam esses processos. Os líderes erram ao ignorar essa equação e não ouvir as pessoas, ou ao ignorar o jeito certo de executar os processos."

"Quanto mais você conhece seu concorrente, mais fácil fica prever as estratégias agressivas que podem ser adotadas por ele contra você. Eu sempre visito meus concorrentes porque preciso saber se eles estão tendo ideias melhores do que as minhas. Assim, consigo reduzir danos para o negócio."

16 - Encare os problemas

"É preciso encarar os problemas, porque só assim o líder vai conseguir pensar em soluções. Quanto mais tempo você demora para buscar alternativas, mais difícil será convencer a equipe de que está no comando. Os problemas devem sempre ficar em cima da mesa, e nunca embaixo do tapete."
17 - Agradeça

"O líder que diz que não quer ter prestígio e ser reconhecido está mentindo. O cargo faz com que as pessoas se deslumbrem com o poder. Agradeça por todas as pessoas que admiram o que você faz. Mas tenha sempre em mente que o que vai garantir seu sucesso como líder e como gestor eficiente de uma equipe é a humildade."

Pode parecer estranho que aos 75 anos ele figure na lista dos líderes mais admirados do país. todos os anos, o Grupo DmrH, consultoria de recursos humanos de São Paulo, faz uma pesquisa com trainees e profissionais que estão dando os primeiros passos no mercado de trabalho para saber qual é a empresa dos sonhos deles e inclui a pergunta sobre quem é o líder com quem mais eles se identificam.

Abilio apareceu na pesquisa pela primeira vez há dois anos. na última edição ficou na oitava posição. o empresário, aponta a pesquisa, representa tudo o que os jovens gostariam de poder fazer: ser dono do seu destino. "Ele faz aquilo que quer da vida", diz Sofia Esteves, presidente do Grupo DMRH. O empresário também é admirado porque, após décadas de trabalho, não dá sinais de que quer parar.

"Sou casado com uma mulher de 39 anos, sou pai de seis filhos [o caçula tem 2 anos]. Nesta altura da vida, eu só posso pensar em continuar fazendo planos", diz. Com um comportamento arrojado no mundo dos negócios, Abilio tem a admiração dos jovens também na esfera virtual. Ele dedica parte de seu tempo para compartilhar com seus seguidores nas redes sociais e no seu blog o que pensa sobre temas diversos como liderança, equilíbrio entre vida pessoal e profissional e, claro, esportes. O empresário é obcecado por atividades físicas, é triatleta e adora falar sobre futebol.

Na rede de microblogs Twitter, mantém 133 450 seguidores, possui um canal no YouTube e desde dezembro do ano passado tem uma fanpage no Facebook (facebook.com/ abiliodiniz), onde havia 1 600 fãs até o fim de janeiro. O Grupo Pão de Açúcar foi fundado em 1948 por Valentim Diniz, pai de Abilio. No fim da década de 1980, ele assumiu o comando das operações.

Com o Plano Collor, a rede de supermercados quase foi à falência. As duas últimas décadas foram de reconstrução. O grupo passou por um processo de profissionalização da gestão e reconstrução da imagem, que estava bastante desgastada. A partir de 2008, o foco na gestão de pessoas ficou mais intenso.

"O varejo é um setor que busca resultados agressivos e é difícil conciliar o cumprimento das metas com a satisfação das pessoas", diz Joel Dutra, professor da Fundação Instituto de Administração, de São Paulo. Depois de fusões com Casas Bahia e Ponto Frio, a rede se tornou a maior empregadora privada do país, com 160 000 funcionários. Recentemente, o empresário tentou fazer uma união atrapalhada com o concorrente Carrefour e irritou seus sócios franceses, do Grupo Casino. Depois de uma intensa briga jurídica, o negócio não se concretizou. "Se algo dá errado, o líder pode olhar pela janela e procurar o responsável ou olhar no espelho e assumir o erro.

Nessa hora, é preciso ter honestidade e sinceridade", diz Abilio. Há quem questione e critique o modelo de gestão do executivo. Profissionais que já trabalharam com o empresário afirmam que ele comandava o Pão de Açúcar com mão de ferro e que é duro e exigente com seus funcionários  em especial com os executivos. Porém, há também relatos de colaboradores, em todos os níveis, que garantem que a humildade é uma de suas características mais marcantes e que, em geral, as pessoas trabalham felizes na companhia. Abilio é um executivo pragmático e com uma visão bem objetiva do mundo. Para ele, fazer o funcionário feliz não é papel somente da empresa.



15 - Mantenha o inimigo ao seu lado


14 - Gerencie o processo e as pessoas